sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Valsa só (fragmentos)

A respiração como onda
indo e vontando
Tão vasto peito
sua solidão é feito jardim
a esperar primavera
Se cala quando a tempestade cai
E os tremores sobre os telhados
Tropeçam e rolam
e cessam no chão escuro.
transformando lembranças
em espelhos
encostados no passado

Um comentário:

  1. oi milene, estava lendo seus textos com calma, sem aquela pressa de interpretação. queria perceber além da impressão imediata, somente o que o texto diz mas, também, o que está implicito, sobrescrito, enfim a vida. teus textos me lembram teresa d'avila, porém ela não viveu o século XX -- não será isso nem defeito nem mérito -- apenas um interessente vértice -- um fé cuidadosa em não ser absoluta, de propor-se voluntariamente às duvidas, talvez pos ultimos dessa estirpe foram Jens Peter Jacobsen e François Mauriac.

    Dante diria que tudo começa e termina no amor, mas este percurso ou circuito não é simples -- a maravilha está nas multiplas tonalidades possíveis nesse espectro -- começamos, usualmente com amores juvenis e terminamos devorando universos... o niilismo é às vezes um amor sem saída...

    "O céu azul faz bom dormir.
    Bóio, num íntimo abandono,
    À tona de me não sentir.

    E é suave, como um correr de água,
    O sentir que não sou alguém,
    Não sou capaz de peso ou mágoa. " (12 de Julho de 2012)

    tb as inconsistencias, nossas e do mundo, a gente não sabe se novamente abraçamos ou se finalmente abdicamos.

    " Vão palavras, saiam e cheguem... /Se arrumem... /Que nessa discordância dentro de mim arrumem um jeito de se concordarem." (16 de julho de 2012)

    esse embate psicologico, emocional, místico leva ao seu espelhamento na realidade:

    "E nem entendo aquilo que entendo:
    pois estou infinitamente maior que eu mesma,
    e não me alcanço.
    Além do que:
    que faço dessa lucidez?" (16 de setembro de 2012)

    De que adianta sabermos o que sabemos se nenhuma resolução transforma de fato o mundo ao redor?... Mas as sucessivas mortes no autor, no poeta, acabam por apascentar um jeito particular (particularíssimo), amadurecemos não como sonhávamos ou queríamos, mas pela força da obra que passa; é ela que determina a tensão.

    "Dos ventos febris de corações sem encontro, aguarda-se enganos e planos ainda em papel." (11 de abril de 2013) // "Do fogo que consome meu frio, retiro a fascinação" (13 de abril de 2013) //

    Para muita gente sem o olhar mais apurado reside grande confusão no que concerne a fé enquanto instituição e cosmologia do seres e a fé enquanto prática íntima -- de igual modo opera-se a descrença. As pessoas confundem o vetor de intimidade, em que o autor lança-se no abismo de suspeitas com uma total anulação de todas as forças. Existem aqueles que, no íntimo, ainda amam mas querem testar isto às ultimas consequências. E há um maravilhoso perigo e poesia aí.

    um abraço

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