A espera de ter de volta um coração

                          

fotografia por milene

o sonho sem silêncio é tortura em frente a janela, que são as coisas sem a alma, são coisas bem menores. A sequidão da vida , o bocejar da tarde fazendo dormir a esperança.  Busco tropeçar em alguma voz que devolva o querer. Somos responsáveis por ausentar-nos do nosso interior, escurecendo o que há fora de nós. Imploro juntar os fragmentos do ser, varrendo as folhas que me eram tão caras por sua pequenez e grandeza. Nada a se romper. Nenhuma dor para transformar. Para a coragem, é preciso um motivo.

Estiagem.

 As estações mais tortuosas

São as secas

Sem som ou gosto

Quando os pés pensam caminhar

Mas

Apenas tropeçam em círculos 

Rondam vontade

E nada colhem

Quanto desgastar de tempo se pode engolir

Até o doer dos ouvidos e o secar do coração

.

. 

É preciso lágrima para regar.

agora

Não escrevo agora poema algum

Num instante de rosa penso em sonho

Caí de uma estrela 

Estava no escuro

Agora sim sinto dor

O antes era ilusão 

Vivia descalça e não sentia

 .

.

.

Preciso me salvar agora

Fotos do dia de dentro para fora

Folhas secam
O frio que olha
Sussurra o frio
Tortos galhos pelo vento
Diz agora no arrepio
Meu
Inquieto e morno
Que por mim
Apenas a noite vai passar
Pela manhã
Tirei fotos do dia
Molduras a falar
Publico as asas que quero ser
Mas não voei
Estou dentro
De um desejo maior que eu
Preso e resignado a meu silêncio.

Milene Cristina

fragmentada

talvez seja a alma
que relute o colher das escolhas
embrulhos , e palavras não enviadas
o enjoo cresce com o nascer da noite
há um cheiro no ar de esperança descorada
a raiva rasteja por debaixo das roupas de frio
querendo se aquecer e sumir
não posso ver o agora
ele me dói, nada o disfarça
o aquieta,
ou retira seus olhos assustadores sobre mim

sombras desenham-me no silêncio.