O papel
Um punhado de branco quer a loucura
Indiscreto
Âncora com asas e relógio
Minhas mãos mentem
para ser eu palavra liberta e calma
Ou então me atira ao pesadelo dourado de quase me reconhecer
Atalho, prisão
Vazio pleno, emoldurando ilusão entediada por excessos
Os meus gestos são incessantes perguntas silenciosas
Escrevendo o que não posso tocar
Me dirás branco tentador e amável, o que lhe entregar ?
O mundo
o pingo d'água da torneira junto ao relógio a cantarolarem sonhos que não dormem ?
A saudade?
Sempre ela
que corre por dentro, ninguém a alcança , se a ela não se entregar
Sei, é constante estampar em ti todo lamento,
não lhe dou a doçura que sinto em minha boca quando em teu branco de imenso desejo , venho me deixar
Manuel Bandeira - Água-forte
ResponderExcluirO preto no branco,
O pente na pele:
Pássaro espalmado
No céu quase branco.
Em meio do pente,
A concha bivalve
Num mar de escarlata.
Concha, rosa ou tâmara?
No escuro recesso,
As fontes da vida
A sangrar inuteis
Por duas feridas.
Tudo bem oculto
Sob as aparências
Da água-forte simples:
De face, de flanco,
O preto no branco.
Emily Dickinson - This Was In The White Of The Year
This was in the White of the Year—
That—was in the Green—
Drifts were as difficult then to think
As Daisies now to be seen—
Looking back is best that is left
Or if it be—before—
Retrospection is Prospect's half,
Sometimes, almost more.
Mario Benedetti - Página en blanco
Bajé al mercado
y traje
tomates diarios aguaceros
endivias y envidias
gambas grupas y amenes
harina monosílabos jerez
instantáneas estornudos arroz
alcachofas y gritos
rarísimos silencios
página en blanco
aquí te dejo todo
haz lo que quieras
espabílate
o por lo menos organízate
yo me echaré una siesta
ojalá me despiertes
con algo original
y sugestivo
para que yo lo firme
um abraço
Obrigada Ramon. Um abraço
ExcluirMuito perigoso esse ato de escrever. Dá quase a entender que o inferno e a escuridão são na verdade brancas. Mais fidedigno que qualquer espelho, uma folha nova é ainda um abismo convidativo. E o papel pode guardar nossa história depois do amarelar, acumulando rasgos e amassados, só pra refletir nossa alma com ainda mais exatidão.
ResponderExcluirVocê tem versos muito contundentes. "Minhas mãos mentem/para ser eu palavra liberta e calma" é lindo demais.
Obrigada Thales. Muito verdadeiro e bonito o que escreveu.
ResponderExcluirSinto que morro e renasço em cada palavra que escrevo. Um abraço.
Muito bom, Milene!
ResponderExcluirFez-me lembrar uma frase de um filmechamado "Paterson", se ainda não viu, muito recomendo: ""Às vezes uma página em branco apresenta maiores possibilidades"
Passar bem.
Oi Vitor, saudades de você por aqui. Vou procurar pelo filme. Obrigada . Um abraço
ExcluirObs: Seu blogue é um dos melhores pra mim :)